sexta-feira, 10 de setembro de 2010

LILIAN


Passaram-se anos, os anos enfim,
Que na praia das brancas areias sem fim,
Existia aquela que amava a mim,
Bem lembro que ela andou por aqui,
A quem sentia afeição pelo meu coração,
Meus pensamentos serão sempre em ti.


Éramos ainda jovens, jovens no mundo a sorrir,
Na praia das brancas areias sem fim,
A pureza do nosso amor era mais que amar,
Mais do que se pode sentir,
Um amor que não havia na terra nem no mar,
Que nos céus os anjos queriam-no conseguir.


E por isso sucedeu, já virado o ano,
Na praia das brancas areias sem fim,
Que numa gélida manhã de inverno,
A grande nuvem escura levou-a de mim,
E seus parentes vestidos em luto,
Vieram velar seu corpo aqui, bem aqui,
Guardando-a, fria e branca num tumulo,
Aqui, na praia das brancas areias sem fim.


E nos céus, os anjos então puderam,
O amor mais puro conseguir...
E esses são os motivos que sucederam,
Na praia das brancas areias sem fim,
Que as nuvens de inverno chegaram,
Levando a ela, a que sentia afeição por mim,


Mas nosso amor era mais do que amar e sentir,
Era uma necessidade do outro sem fim,
Habitando-nos o mesmo espírito enfim,
Que nem nos céus podem os serafins,
Ou demônios embaixo do mar, extinguir,
A magia que pra sempre existirá a unir,
Meu amor ao amor dela, que amava a mim.


Pois o por do sol à tarde, só me traz saudade,
Da bela que eu amei aqui,
Do luar escondido, só recordo os sorrisos,
Da bela que eu amei aqui,
E todas as tardes venho deitar-me,
Ao tumulo da minha deusa, a lamentar-me,
Apertando nas mãos grãos de areias daqui,
Da praia das brancas areias sem fim.




tomb

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

SINOS DA CATEDRAL

A catedral imersa na noite se perdia...


Eram noites das tempestades de setembro,
De chuvas fortes que o coração ouvia,
De ventos tristes que ao coração trazia,
Nostálgicas magoas, saudades?... Não lembro.
E ao longe os sinos da catedral se ouvia,
Em nevoas cinza que não cessava,
No peito o coração aguardava o colapso,
Na catedral a chuva negra que não cessava,
Sinos e coração n’um só compasso.


Toca-me na espinha um calafrio de sombras,
De um espírito vagante e solitário,
Encontrando refúgio nas penumbras,
Que se abrigam em meu peito de desvairo,
Dos olhos úmidos num coração de gelo,
Vejo a chuva inundar meu santuário,
Na voz muda em um grito de apelo,
Sinto a dor de um coração petrificado.


Por diversas vezes me encontrei perdido,
Lutando pra compreender a existência,
Apático, sem suportar mais a existência,
A cada sonho meu coração acorda perdido,
Dos labirintos tenebrosos da inconsciência,
Oh, lúgubre tenebrosa inconsciência!
Por que não me deixas sonhar despercebido?
E não viver mais tal experiência,
E não encarar mais a vida ressentido,
Sem amor sem ódio nem consciência.


E no quarto a chuva caía agora corrosiva,
Gotas de plutônio dissolvendo o tédio,
Nos telhados queimavam tais gotas do inferno,
Qual flagelo de Ares precisa e nociva,
Zunia nos ouvidos a marcha de Poseidon,
A flama explodia nos telhados, incisiva,
Horas do juízo final em gotas do Armagedon.


Abro os olhos e digo: - É triste a chuva,
Novamente, criando lodo na parede,
E limo na alma que padece reclusa,
Do seu escorregadio e repulsivo verde,
Envolto no coração que esmorece sem cura,
Em tristes sonhos que se contraem sem cura,
Do alto vêem-se as ruas n’um traçado rude,
Unindo a chuva as águas dos esgotos, imundas,
Afogando os ratos matando sua cede,
Escorrem pelas valas para as áreas imundas.


As gotas se repetem de forma eterna,
Como enxames de gafanhotos na plantação,
Arrasam como dias de tristeza no coração,
Amedrontam rasgando os céus com seu clarão,
É preciso encontrar amor de alma terna,
Estender a um desconhecido a mão,
A um estranho como você de outra terra,
Suplicando a ele dar as mãos,
Buscando encontrar a paz eterna,
Tentando se livrar da aflição eterna.


Olhando bem, digo: - É uma aventura infantil
Corramos na chuva sem receio algum,
Libertemo-nos do medo que não causa mal nenhum,
É chuva de alegria no qual nunca se viu,
São gotas de esperança que nos caem, um a um,
Veja como é de prata a cor que reluziu,
Caem por todos os lados..., aqui, ali, e mais um...
É paz que a chuva trouxe e o coração sentiu,
É luz de prata que brilha na cor de “lithium”,
Sigamos a chuva agradável que nunca se viu,
Tenhamos sua paz inocente de sonho infantil.


Tirava a camisa livrando-me do mau,
Livrando-me do medo para que não se agrave,
Do mau agouro para que o céu me ampare,
Corria depressa a toda velocidade,
Até deparar-me com os sinos da catedral,
A chuva escorrendo das paredes da catedral,
As gotas vermelhas do Cristo da catedral,
Clamo: - Por que pai não posso ir em frente?
E dos sinos ouvia: “Aguarde o tempo final!”
Os sinos dobravam: “Aguarde o tempo final!”


Retorno chorando as lágrimas da chuva,
As tempestades que o coração sentia,
Ao vento triste que o coração trazia,
Seguia as ruas e suas imundas curvas,
A catedral imersa na noite se perdia,
Os sinos dobram ainda de maneira confusa,
Distorcendo a mente deixando-a confusa,
Emirjo da chuva estranho ainda não me via,
Uma sombra vagando por entre ruas sujas,
Os passos acompanham os sinos da catedral,
As gotas corroem-me como as do juízo final,
Os telhados queimam como choro infernal,
E os sinos dobram: “Aguarde o tempo final!”




tomb

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

LOUCURA DA LUA



Uma aragem fria passa e leva o sono,
Carrega os sonhos dos cabelos para além
Do esquecimento, desperto tácito, sem
Anseio. Deitado, permaneço morno.
Perscruto a noite no quarto, as sombras
Deformadas e no firmamento, giganta,
A lua, deitada em brumas, soberana,
No céu brilha em esplendor como jóia,
Estrelas se rendem em face da sua glória.


É como se declamasse um poema épico,
Das primeiras eras... E brilham alucinadas,
As estrelas!Uma cai outra apaga,
Não suportam tal vislumbre mágico!
Eu sim entendo tudo, cada movimento,
Que faz aos meus olhos sonolentos,
Sim, eu entendo quem é! Dos meus amores,
Os que esqueci, há um que eu recordo,
O improvável, o difícil, sofrido,
O seu amor me é mister, doce Ofélia!
Em sonho te vejo! Do céu tu és rainha!


Levanto-me sem retirar os olhos do teatro,
Colossal e magnânimo, e encontro,
Seus olhos, os mesmos, não mudaram,
De um brilho raro como antes brilham,
Como costumava ser, ao luar brilham.
E vendo-a assim tão solene, formosa,
Lembro de como foi injusto o termino,
Da sua vida alegre e luminosa,
Ao desfecho do chuvoso e frio enterro,
Nenhum amor pode ser perfeito na terra,
Nem mesmo com a benção do Eterno.


Os dias foram claros, doloridos demais!
As noites chuvosas, solitárias demais!
O universo conspirava para o meu fim,
Usava meu martírio o meu luto, mais
A falta de alinho que havia em mim,
Deus! Fui eu tão descuidado a tal ponto,
De não poder decifrar o enigma do amor?
De que dotaste-nos desse encosto,
Para da perfeição não sabermos o rumor?
Os dias me marcam a ferro e fogo.


Ah, como seria bom se me chamasses,
Como me chamas assim, nessa hora!
Como seria apropriado se me olhasse agora,
E dessa dor por completo me libertasse!
E das sonatas compostas pelo teu lume,
Poder subir em pontos de vaga-lumes,
Ao céu, ao teu céu, tua casa primorosa!


É possível! Ouço tua voz no vento!
Ofélia! Existe um poema mais bonito de todos,
Encontrasse nele teu nome, teu lamento,
E rápida gira em anéis de fogo,
Eu tento alcançar... Chega de sofrimento...
Caindo eu podia ver seu brilho se afastar,
Vejo o seu banho na varanda à noite,
Tua beleza e o luar me fez sonhar,
Do sexto andar meu corpo toca ao chão,
Encontra o solo meu triste coração,
Feliz minha alma sobe pra te encontrar,
Livre, meu espírito voa pra te encontrar.




tomb